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JOGOS TRADICIONAIS E POPULARES EM MOÇAMBIQUE

 

Conhecem jogos tradicionais Moçambicanos como Amagumulazetxê, Cheia, Matacuzana, Terra-Mar, Ntchuva ou Ntxuva?

São alguns dos muitos jogos tradicionais de Moçambique ainda hoje praticados. Alguns são para rapariguinhas, outros para homens idosos, alguns para dois jogadores e outros para jogar em grupo.

O tipo de jogos varia de região para região. São frequentemente jogados em alturas bem definidas do ano ou durante pausas do trabalho agrícola, contribuindo de forma saudável para a ocupação do tempo livre. Os jogos tradicionais são muito antigos, praticados há séculos e transmitidos oralmente de geração em geração. Dependendo, contudo, da natureza de cada região, as diferentes gerações adaptam-nos à sua forma de ser e viver.

O jogo tradicional mais conhecido é o Ntxuva (ou Warri, ou Macala, ou muitos outros nomes): o Xadrez Africano, que é jogado não só em Moçambique, mas também em muitos outros países Africanos.

Ntxuva é um jogo de tabuleiro Africano, jogado por dois ou mais participantes. Trata-se de um jogo de lógica e cálculos matemáticos, que requer muita concentração e estratégia. Diferentemente do Xadrez internacional, que tem reis e rainhas, torres, peões e cavalos, o Ntxuva só usa pedras ou seixos.

O jogo pode ser jogado no chão, cavando 4 filas de pequenos buracos, cada fila com 4, 8, 16 ou 32 buracos, mas também num tabuleiro de madeira ou cimento. As equipas confrontam-se frente-a-frente, sentadas. O jogo inicia-se após colocar duas pequenas pedras em cada buraco. O objectivo do jogo é eliminar as pedras do oponente.

A importância dos jogos tradicionais em Moçambique vem de estabelecerem contacto com a cultura da comunidade, bem como melhorarem o desenvolvimento do cérebro e a criatividade dos participantes, dado não terem regras fixas, e o local onde se realizam depende da ocasião.

Os jogos tradicionais são essenciais na infância, por estarem ligados a costumes populares que ajudam a promover a socialização, o desenvolvimento da coordenação, equilíbrio e respeito pelas regras e habilidades cognitivas. Muitas vezes a origem dos jogos é indefinida, mas a sua importância para a vida das crianças é indiscutível.

Outra actividade muito popular por estes dias, embora não seja exactamente um jogo, é a Capoeira. É uma arte marcial Brasileira disfarçada de dança e executada com instrumentos musicais populares e canções tradicionais Brasileiras. Compreende movimentos específicos ofensivos e defensivos e, ao contrário de outras artes marciais, o participante está em movimento constante devido ao movimento básico, a ginga, sendo uma forma de dançar jogando ou de jogo dançante. Os movimentos incluem também posições no solo, pontapés, rasteiras e acrobacias.

Há quem acredite que a Capoeira teve a sua origem em África, outros dizem que nasceu no Brasil. Nos anos 30 do século passado desenvolveu-se no Brasil um estilo regional de Capoeira que, ao contrário da Capoeira de Angola, se dança geralmente num ritmo mais rápido e com pontapés verticais de estilo agressivo. Se circular pela Marginal de Maputo num Domingo de manhã poderá observar vários grupos a praticar Capoeira.

Embora alguns jogos tradicionais estejam a perder terreno na nossa sociedade, outros, como a Neca e o Twister, o Barra-manteiga, a Cabra-cega, o Salto-cego, agarrar ou Zhoto, Berlinde, Saltar à corda, Escondidas, Esquiva ou Cheias e jogos de canções, são ainda muito populares – embora os computadores portáteis, e os telemóveis em particular, estejam a tomar o lugar dos jogos e actividades lúdicas. Hoje em dia até já se pode jogar Ntchuva online.

A par dos jogos, os brinquedos são uma parte importante da experiência de brincar. Em grande parte de África não é comum poder comprar brinquedos. Como em qualquer outro lugar, as crianças das áreas rurais e urbanas de Moçambique brincam com velhos pneus usados, que são simples e divertidos.

A criatividade é imensa e as crianças geralmente recorrem aos materiais mais simples, como barro, paus e arame, para fazer brinquedos. O arame é também usado para criar e simular carrinhos de brincar ou criaturas imaginárias que mantêm aceso o enorme sentido de diversão das crianças. Imitam-se diferentes tipos de carros, sejam eles camiões, carros ou motocicletas, usando apenas arame. Eu própria comprei vários desses carros para oferecer aos meus sobrinhos e sobrinhas e lembrarei sempre uma fotografia antiga de Sérgio Santimano de um rapazinho com um telemóvel feito de barro.

Espero que apreciem esta belíssima exposição de todos os jogos, tradicionais ou contemporâneos, que inspiraram o tema da Colecção Crescente 2022, a décima-segunda edição da nossa mostra anual. Agradeço aos artistas pela sua cooperação e criatividade.

Ao escrever isto, espero sinceramente que possamos organizar a exposição ‘ao vivo’ e que nos possamos encontrar na noite da abertura, embora a versão digital do ano passado tenha sido um grande sucesso, graças à equipa da Kulungwana. Foram acrescentados alguns novos elementos, como por exemplo entrevistas aos artistas no Facebook, as quais são muito interessantes e nos dão uma ideia da sua visão sobre o seu trabalho. Temos também a participação de bastantes mulheres e esperamos que o seu número cresça nos próximos anos.

Mieke Oldenburg

Curadora