A moça Mbique

Inaugura-se a 11 de Agosto, pelas 17,00 horas, na Galeria Kulungwana, sita na Estação dos CFM de Maputo, a  exposição individual de artes plásticas “A MOÇA MBIQUE”, de Jorge Fernandes. Esta exposição prolonga-se até 2 de Setembro p.f.

 

A Associação Kulungwana apresenta, desta vez, uma exposição individual de Jorge Fernandes. Apesar do artista estar na cena artística local desde 2015, com uma actividade multifacetada (exposições colectivas, performances, docência, palestras e curadorias), realiza agora verdadeiramente a sua primeira individual.

Nascido em Moçambique, com um bacharelato em Belas-Artes pela Academia Real de Belas-Artes (KABK), de Haia (Holanda), onde residiu durante cerca de 22 anos, o artista regressou a Moçambique em 2013, tendo-se profissionalizado em 2015.

Segundo o artista, o seu trabalho tem incluído progressivamente pessoas locais, “até ao ponto em que o trabalho é diretamente sobre elas”. A partir da investigação da consciência multidimensional dos seres humanos, apresenta os resultados da mesma em forma de pintura e banda desenhada.

“Eu me esforço para combinar a realidade do sonho com o material, o racional com a intuição, a realidade cotidiana que vemos ao nosso redor com visões além do tempo e do espaço. A psicologia individual e de massas são ciências de alto valor para mim, pois me permitem pensar que entendo o que está acontecendo na sociedade, de modo que posso traduzi-lo de forma pictórica”.

Assim, o artista fotografou tudo o que lhe pareceu interessante, tendo criado uma imensa base de dados, que, em combinação com a internet, lhe permite criar o suporte sobre o qual as suas pinturas se elaboram.

Segundo a curadora da exposição, Michele Santoro, embora “Fernandes empregue um maneirismo surrealista, o trabalho tem uma intenção social-realista, que significa que ele parece tentar abordar a dinâmica da sociedade através da linguagem da pintura figurativa”.

“Ao olhar para suas obras dos últimos nove anos, pode-se ver três ou quatro minisséries, se quiserem, que formaram os vários capítulos da exposição. Os arquétipos são o alfabeto de um subconsciente social, disse o psicanalista Gustav Jung. São padrões básicos de comportamento, configurações elementares do nosso ser central que formam o fundamento da sociedade. A linguagem arquetípica usada por Fernandes retrata uma visão de mundo em que divindades antigas e contemporâneas fazem parte do mesmo mundo que os cidadãos comuns. Alguns dos plebeus parecem ter-se transformado em deuses. É como se eles tivessem um papel a desempenhar numa ópera de proporções galácticas que só é sentida, mas não conhecida. Um conto impenetrável se manifesta entre as próprias pinturas, esperando que o espectador a descodifique”.

 E conclui: “Não há tomada de posição política, mas é claro que Fernandes tenta criar uma arte que desafie o status quo social”.